PREÇO DA SOJA, PRA ONDE VAI AGORA?
Por Pedro Dejneka, análise direto de Chicago
PRONTO! ESTÁ TUDO RESOLVIDO...
VAI CHOVER BASTANTE, AS SAFRAS SERÃO BOAS E OS EUA TERÃO
ESTOQUES MAIS QUE SUFICIENTES DE SOJA E MILHO PARA ANO QUE VEM!
Até parece né caros leitores?
Mas...Quem olha de fora pra dentro na ação desta semana
na bolsa em Chicago e lê algumas manchetes por aí certamente pode ter
pensamentos parecidos...
Quando Milho Dezembro bateu limite de baixa hoje
fiz uma aposta com meus colegas de trabalho:
Apostei que Milho sairia do limite e tentaria recuperar
perdas no dia... MAS... alguém disse: “Pedrão, se CZ2 (Milho Dezembro 2012)
fechar em alta no dia, você usa uma peruca o resto do mês?” TOPEI!
E por muito pouco (8 centavos) não tive que ficar assim o
resto do mês (milho bateu limite de baixa, -40 cents, e voltou com toda fúria,
fechando com baixa de apenas 8 centavos no dia):
Complicado hein...
Ok, ok... chega de brincadeira, pois isto tudo é assunto
sério.
Quem lê meus comentários sabe que já venho falando
há pelo menos 1 mês: “Baixas devem ser compradas, o mercado não sobe em linha
reta e correções demonstram um mercado saudável.”
Bom, nada mudou...
Acontece que, quando estamos lidando com várias forças
externas que influenciam os mercados de commodities agrícolas diariamente é
impossível saber a magnitude de um ou outro movimento.
Não se pode subestimar a força dos fundos de
investimento, que por sinal, estão comprados em peso tanto na soja quando no
milho e também com posições recorde de compra no trigo (fundos raramente
assumem posições de compra no trigo, vejam gráfico).
Mercados climáticos são perfeitos para quem adora
ADRENALINA PURA!
Não é para os que sofrem com pressão alta...
A cada mapa, a cada leitura, cada revisão de potencial de
rendimento, o mercado reage.
Movimentos diários de 2%, 3% são comuns...
Estamos no meio de um mercado climático, então toda
cautela é pouca.
Evitem a SÍNDROME DO MÍOPE (para quem não leu ainda, o
comentário está publicado na página da PHDerivativos no Facebook
–www.facebook.com/PHDerivativos )...
Vou tentar explicar um pouco o que aconteceu ontem e
hoje.
Abaixo alguns fatores que foram mencionados como causas
da forte baixa seguidos de minha leitura sobre o que acontece.
• Chuvas nos mapas climáticos causou liquidação por
parte dos fundos – PARCIALMENTE CORRETO
o Sim, os mapas climáticos estão mostrando mais
chuvas nos mapas para os próximos dias no cinturão de produção Norte Americano.
MAS, as chuvas são simplesmente melhores do que apontado pelos mapas de
sexta-feira passada. Outro detalhe é que o mapa que está “mais molhado” é
o do modelo Americano (GFS) que está muito menos preciso e confiável que o
modelo Europeu a mais de 2 meses... O modelo Europeu mostra chuvas um pouco
melhores sim, mas nada muito impressionante e que vá reverter o quadro geral de
declínio de rendimento das safras de milho e soja. Mercados climáticos
são extremamente voláteis e operam de mapa em mapa... com as enormes altas
recentes, o mercado fica á mercê de movimentos como o de ontem e hoje.
Volatilidade extrema continua, mas ATÉ TERMOS CONFIRMAÇÃO DE UMA MUDANÇA NA
TENDÊNCIA DE MÉDIO PRAZO (Até meados de Agosto pelo menos)PARA O CLIMA baixas
devem ser vistas como oportunidades de compra. As chuvas nos mapas
ajudaríam mais a soja do que o milho e por isso vemos o contrato de soja muito
mais frágil que o de milho. No final das contas, repito o que já venho
falando á um tempo – a tendência de médio á longo prazo não mudou, ainda é de
alta – cuidado com as possíveis “fintas” que o mercado nos dá... Lembrando que
mesmo com a queda de ontem e hoje, o contrato de Novembro da Soja ainda está
mais de $3 dólares de onde estava no início de Maio e iguala onde estava apenas
á 1 semana, na segunda-feira, 16 de Julho.
Em relação mais específica aos mapas e ao papo de que
estava “chovendo sobre boa parte do cinturão de produção”... bem, vejam o mapa
abaixo:
PERCEBAM QUE MAIS DE 90% DOS DOIS ESTADOS DE MAIOR
PRODUÇÃO DE MILHO E SOJA NO PAÍS (ILLINOIS e IOWA) NÃO RECEBERAM CHUVA
ALGUMA...
Pressão Macro Financeira – CORRETO
Verdade Verdadeiríssima! Apesar do clima ser responsável
pelas vendas iniciais de ontem e hoje, o clima por si só não é responsável por
termos atingido limite de baixa nos contratos de soja e farelo de soja ontem e
hoje e no contrato de milho hoje. Repito: NÃO SE PODE SUBESTIMAR A
FORÇA DOS FUNDOS DE INVESTIMENTO... o tema ontem e hoje foi de RISK-OFF
(Aversão ao Risco). O que causa esta aversão ao risco? Oras, a EUROPA, o
que mais? O que está pior hoje na Europa que estava sexta? Apenas o fato
da agência Moody’s ter ganho o prêmio de “Captão Óbvio” ontem e ter colocado as
economias de Alemanha e Holanda em “Perspectiva Negativa”. Pois a bagunça
é a mesma que era á 1 mês atrás... o mercado simplesmente resolveu
“prestar atenção” novamente á bagunça que Espanha e Itália (não vale mais nem á
pena mencionar Grécia) estão fazendo. Não vou então “gastar mais tempo”
neste relatório falando sobre um problema que continua ficando maior e que o
mercado escolhe ignorar á cada PSEUDO-SOLUÇÃO anunciada...
Ok, os fatores acima foram os mais mencionados para
“justificar” a baixa. Eles contribuíram sim mas não é possível
“racionalizar” dois dias seguidos de limite de baixa no mercado de soja (perda
de $1,20 ou mais de 7% em dois dias) baseado somente nestes fatores.
Os eventos acima foram o pavio inicial, foram o que deu o
sinal de “venda” para participantes de mercado que estavam extremamente
comprados.
Mas uma vez que o movimento é iniciado, como um ditado de
mercado aqui explica “selling begets selling” ou simplesmente VENDA GERA VENDA.
O que isto quer dizer?
Quer dizer que existem certos momentos em um mercado
altista no qual o mercado se encontra “superestendido”, comprado um pouco além
da razão...
E em momentos como estes, o mercado se torna suscetível á
ondas de vendas.
Algumas vezes como vimos no início do movimento de alta
no final de Junho e início de Julho, as ondas de baixa não eram muito
duradouras... qualquer baixa de 20 á 30 centavos era logo fisgada por
compradores ansiosos.
Quanto mais o mercado sobe em um curto prazo como é o que
aconteceu, mais difícil fica que ele continue subindo sem uma maior
resistência.
Isso estava acontecendo semana passada quando, por
exemplo, o contrato de soja ganhou quase $1,50 em uma só semana.
Para continuar a tendência de alta esta semana, o mercado
estava precisando de NOVAS notícias altistas... algo novo para reacender a
chama! Isto viria na forma de mapas secos para os próximos 10 dias ou
novas amostras de demanda para soja ou milho Americano.
Não só isto não aconteceu, como entramos no domingo á
noite com grande pressão do macro cenário...
A primeira onda de vendas veio e foi forte o suficiente
para atrair novos “vendedores” que receavam ver seus lucros apagados.
A partir daí é todo mundo de olho nos gráficos e pontos
técnicos se tornam cada vez mais importantes...
Com cada ponto técnico (usado por grafistas, que operam
mercados quase estritamente baseado em estudos de tendências gráficas)
atingido, mais vendas “esperavam” logo abaixo destes pontos... uma vez
ativadas, estas ordens de vendas atraíam mais vendas e assim vai a brincadeira...
O volume destas baixas é geralmente grande pois muitos
fundos de investimentos operam em cima de gráficos.
O mesmo exercício funciona na vice-versa, em mercados
baixistas que muitas vezes têm movimentos violentíssimos de “SHORT COVERING” –
termo que descreve participantes vendidos no mercado pressionados por altas
temporárias e que se vêem forçados á recomprar seus contratos vendidos para
evitar maiores perdas...
Entenderam? Espero que sim... não é tão complicado quanto
parece...
Simplesmente, o que estou dizendo é que o mercado estava
precisando de uma correção “saudável” destas para reanimar os BULLS -
compradores do mercado.
“Poxa Pedro, mas se você sabia de tudo isso, se sabia que
o mercado estava “cansado” e que teria uma correção, porque não avisou então?”
Ahhhhhh meus caros... mesmo que me chamem de MESTRE DOS
MAGOS, este é apenas um sobrenome carinhoso de um grande colega...
Se eu realmente tivesse uma bola de cristal e soubesse
exatamente quando tudo isto fosse acontecer... tenham certeza que eu estaria em
uma praia, operando em meu laptop 1 hora por dia e ficando muito mais tempo com
minha família...
Apenas estou explicando os fenômenos de mercado para que
possamos juntos evitar a SÍNDROME DO MÍOPE...
Meu discurso não muda, BAIXAS DEVEM SER COMPRADAS ATÉ QUE
TENHAMOS CONVICÇÃO DE UMA MUDANÇA NA TENDÊNCIA CLIMÁTICA. Apenas, quando
o movimento de baixa é violento, toda cautela vale a pena.
Apesar de mais chuvas nos radares, como expliquei acima,
os modelos Euro e GFS ainda divergem, com o modelo EURO bem menos “molhado”.
A soja pode sim usar e se recuperar com chuvas nos
próximos 10 dias e isto pode trazer mais uma onda de vendas.
Mas, o mercado sabe muito bem que, mesmo com chuvas nos
próximos dias, a safra de soja será pelo menos de 8% á 10% menor que o
esperado. E se já estávamos preocupados com os estoques de soja mesmo
antes de termos qualquer indício de um problema climático este verão aqui, o
que vocês acham que pode acontecer com os estoques se o mercado derrubar muito
os preços??? Motivará a demanda e complicará mais ainda o quadro.
O mercado entende que deve manter preços de soja altos o
suficiente no curto e médio prazo, até que tenha convicção sobre o tamanho real
da safra e saiba o quanto de demanda os EUA podem servir durante este próximo
ano.
Não confirmando-se chuvas entre 10 a 25 mm nos próximos
10 dias abrangendo a maior parte do cinturão de produção, a forte tendência de
alta no curto prazo pode retornar...
Já no milho, a safra está “acabada”, existe muito pouco
espaço para qualquer tipo de recuperação.
A safra deverá ser de 15% á 25% menor que o esperado e
deixará estoques baixíssimos nos EUA...
Não acredito que vimos as altas de milho e soja ainda
para este ano... á não ser que tenhamos uma completa “virada” no clima... o que
muitos técnicos e especialistas não esperam...
Mas isto não significa que sempre iremos “para o alto e
avante” em linha reta...
Então meus caros, muita cautela... pois a VOLATILIDADE
está para ficar.
Vejam gráficos abaixo de condições “ruim/muito ruim” das
safras de Milho e Soja nos EUA, relatados ontem pelo USDA (linha vermelha).
Percebam como a linha está muito acima da média de 5
anos, indicando uma safra que realmente sofre com o atual quadro climático.
Mais um ponto antes que eu colocar vocês para dormir
completamente...
No mundo dos fundos de investimento, se fala muito sobre
uma preocupação de certos gestores com o “timing” que a atual crise Europeia e
as altas nas commodities agrícolas estão formando.
Ouve-se muitas comparações com 2008, quando muitos de
vocês sabem o que aconteceu...
Para quem não sabe, é só ver o gráfico abaixo...
A crise financeira “explodiu” no segundo semestre,
mercados financeiros entraram em pânico e TUDO foi vendido, inclusive
Commodities Agrícolas.
Naquele ano, altas históricas foram formadas em Julho e
simplesmente despencaram até o final do ano, com a soja perdendo mais de 50% em
menos de 5 meses...
2012 não é 2008...
O quadro é bastante diferente e será explicado em maior
detalhe em um dos próximos comentários.
Mas este ano, principalmente se a tendência seca e quente
continuar, os fundamentos dos mercados de soja e milho terão que EVENTUALMENTE
falar mais alto que qualquer pressão do macro cenário.
Para o mercado noturno e o resto da semana, é ficar de
olho nos mapas climáticos e pontos técnicos.
Mesmo com forte baixa hoje, a atividade técnica nos
contratos agrícolas foi “animadora” para os BULLS na última hora da sessão...
Será que vimos hoje um ponto de baixa para o curto prazo?
Saberemos nos próximos dias...
Fonte: Pedro Dejneka
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