COTAÇÕES AGRÍCOLAS

quarta-feira, 25 de julho de 2012

PREÇO DA SOJA, PRA ONDE VAI AGORA?


PREÇO DA SOJA, PRA ONDE VAI AGORA?

Por Pedro Dejneka, análise direto de Chicago

PRONTO! ESTÁ TUDO RESOLVIDO...
VAI CHOVER BASTANTE, AS SAFRAS SERÃO BOAS E OS EUA TERÃO ESTOQUES MAIS QUE SUFICIENTES DE SOJA E MILHO PARA ANO QUE VEM!

Até parece né caros leitores?

Mas...Quem olha de fora pra dentro na ação desta semana na bolsa em Chicago e lê algumas manchetes por aí certamente pode ter pensamentos parecidos...
 Quando Milho Dezembro bateu limite de baixa hoje fiz uma aposta com meus colegas de trabalho:
Apostei que Milho sairia do limite e tentaria recuperar perdas no dia... MAS... alguém disse: “Pedrão, se CZ2 (Milho Dezembro 2012) fechar em alta no dia, você usa uma peruca o resto do mês?” TOPEI!
E por muito pouco (8 centavos) não tive que ficar assim o resto do mês (milho bateu limite de baixa, -40 cents, e voltou com toda fúria, fechando com baixa de apenas 8 centavos no dia):


 Complicado hein...

Ok, ok... chega de brincadeira, pois isto tudo é assunto sério.
 Quem lê meus comentários sabe que já venho falando há pelo menos 1 mês: “Baixas devem ser compradas, o mercado não sobe em linha reta e correções demonstram um mercado saudável.”
Bom, nada mudou...
Acontece que, quando estamos lidando com várias forças externas que influenciam os mercados de commodities agrícolas diariamente é impossível saber a magnitude de um ou outro movimento.

Não se pode subestimar a força dos fundos de investimento, que por sinal, estão comprados em peso tanto na soja quando no milho e também com posições recorde de compra no trigo (fundos raramente assumem posições de compra no trigo, vejam gráfico). 



 
Mercados climáticos são perfeitos para quem adora ADRENALINA PURA!
Não é para os que sofrem com pressão alta...
A cada mapa, a cada leitura, cada revisão de potencial de rendimento, o mercado reage.
Movimentos diários de 2%, 3% são comuns...

Estamos no meio de um mercado climático, então toda cautela é pouca.
Evitem a SÍNDROME DO MÍOPE (para quem não leu ainda, o comentário está publicado na página da PHDerivativos no Facebook –www.facebook.com/PHDerivativos )...

Vou tentar explicar um pouco o que aconteceu ontem e hoje.

Abaixo alguns fatores que foram mencionados como causas da forte baixa seguidos de minha leitura sobre o que acontece.

•  Chuvas nos mapas climáticos causou liquidação por parte dos fundos – PARCIALMENTE CORRETO

o   Sim, os mapas climáticos estão mostrando mais chuvas nos mapas para os próximos dias no cinturão de produção Norte Americano.  MAS, as chuvas são simplesmente melhores do que apontado pelos mapas de sexta-feira passada.  Outro detalhe é que o mapa que está “mais molhado” é o do modelo Americano (GFS) que está muito menos preciso e confiável que o modelo Europeu a mais de 2 meses... O modelo Europeu mostra chuvas um pouco melhores sim, mas nada muito impressionante e que vá reverter o quadro geral de declínio de rendimento das safras de milho e soja.  Mercados climáticos são extremamente voláteis e operam de mapa em mapa... com as enormes altas recentes, o mercado fica á mercê de movimentos como o de ontem e hoje. Volatilidade extrema continua, mas ATÉ TERMOS CONFIRMAÇÃO DE UMA MUDANÇA NA TENDÊNCIA DE MÉDIO PRAZO (Até meados de Agosto pelo menos)PARA O CLIMA baixas devem ser vistas como oportunidades de compra.  As chuvas nos mapas ajudaríam mais a soja do que o milho e por isso vemos o contrato de soja muito mais frágil que o de milho.  No final das contas, repito o que já venho falando á um tempo – a tendência de médio á longo prazo não mudou, ainda é de alta – cuidado com as possíveis “fintas” que o mercado nos dá... Lembrando que mesmo com a queda de ontem e hoje, o contrato de Novembro da Soja ainda está mais de $3 dólares de onde estava no início de Maio e iguala onde estava apenas á 1 semana, na segunda-feira, 16 de Julho.

Em relação mais específica aos mapas e ao papo de que estava “chovendo sobre boa parte do cinturão de produção”... bem, vejam o mapa abaixo:

PERCEBAM QUE MAIS DE 90% DOS DOIS ESTADOS DE MAIOR PRODUÇÃO DE MILHO E SOJA NO PAÍS (ILLINOIS e IOWA) NÃO RECEBERAM CHUVA ALGUMA...

 
Pressão Macro Financeira – CORRETO
Verdade Verdadeiríssima! Apesar do clima ser responsável pelas vendas iniciais de ontem e hoje, o clima por si só não é responsável por termos atingido limite de baixa nos contratos de soja e farelo de soja ontem e hoje e no contrato de milho hoje.  Repito: NÃO SE PODE SUBESTIMAR  A FORÇA DOS FUNDOS DE INVESTIMENTO... o tema ontem e hoje foi de RISK-OFF (Aversão ao Risco).  O que causa esta aversão ao risco? Oras, a EUROPA, o que mais?  O que está pior hoje na Europa que estava sexta? Apenas o fato da agência Moody’s ter ganho o prêmio de “Captão Óbvio” ontem e ter colocado as economias de Alemanha e Holanda em “Perspectiva Negativa”.  Pois a bagunça é a mesma que era á 1 mês atrás...  o mercado simplesmente resolveu “prestar atenção” novamente á bagunça que Espanha e Itália (não vale mais nem á pena mencionar Grécia) estão fazendo.  Não vou então “gastar mais tempo” neste relatório falando sobre um problema que continua ficando maior e que o mercado escolhe ignorar á cada PSEUDO-SOLUÇÃO anunciada...

Ok, os fatores acima foram os mais mencionados para “justificar” a baixa.  Eles contribuíram sim mas não é possível “racionalizar” dois dias seguidos de limite de baixa no mercado de soja (perda de $1,20 ou mais de 7% em dois dias) baseado somente nestes fatores.
Os eventos acima foram o pavio inicial, foram o que deu o sinal de “venda” para participantes de mercado que estavam extremamente comprados.
Mas uma vez que o movimento é iniciado, como um ditado de mercado aqui explica “selling begets selling” ou simplesmente VENDA GERA VENDA.
O que isto quer dizer?
Quer dizer que existem certos momentos em um mercado altista no qual o mercado se encontra “superestendido”, comprado um pouco além da razão...
E em momentos como estes, o mercado se torna suscetível á ondas de vendas.
Algumas vezes como vimos no início do movimento de alta no final de Junho e início de Julho, as ondas de baixa não eram muito duradouras... qualquer baixa de 20 á 30 centavos era logo fisgada por compradores ansiosos.
Quanto mais o mercado sobe em um curto prazo como é o que aconteceu, mais difícil fica que ele continue subindo sem uma maior resistência.
Isso estava acontecendo semana passada quando, por exemplo, o contrato de soja ganhou quase $1,50 em uma só semana.
Para continuar a tendência de alta esta semana, o mercado estava precisando de NOVAS notícias altistas... algo novo para reacender a chama!  Isto viria na forma de mapas secos para os próximos 10 dias ou novas amostras de demanda para soja ou milho Americano.

Não só isto não aconteceu, como entramos no domingo á noite com grande pressão do macro cenário...
A primeira onda de vendas veio e foi forte o suficiente para atrair novos “vendedores” que receavam ver seus lucros apagados.
A partir daí é todo mundo de olho nos gráficos e pontos técnicos se tornam cada vez mais importantes...

Com cada ponto técnico (usado por grafistas, que operam mercados quase estritamente baseado em estudos de tendências gráficas) atingido, mais vendas “esperavam” logo abaixo destes pontos... uma vez ativadas, estas ordens de vendas atraíam mais vendas e assim vai a brincadeira...
O volume destas baixas é geralmente grande pois muitos fundos de investimentos operam em cima de gráficos.

O mesmo exercício funciona na vice-versa, em mercados baixistas que muitas vezes têm movimentos violentíssimos de “SHORT COVERING” – termo que descreve participantes vendidos no mercado pressionados por altas temporárias e que se vêem forçados á recomprar seus contratos vendidos para evitar maiores perdas...

Entenderam? Espero que sim... não é tão complicado quanto parece...
Simplesmente, o que estou dizendo é que o mercado estava precisando de uma correção “saudável” destas para reanimar os BULLS  - compradores do mercado.

“Poxa Pedro, mas se você sabia de tudo isso, se sabia que o mercado estava “cansado” e que teria uma correção, porque não avisou então?”

Ahhhhhh meus caros... mesmo que me chamem de MESTRE DOS MAGOS, este é apenas um sobrenome carinhoso de um grande colega...

Se eu realmente tivesse uma bola de cristal e soubesse exatamente quando tudo isto fosse acontecer... tenham certeza que eu estaria em uma praia, operando em meu laptop 1 hora por dia e ficando muito mais tempo com minha família... 


Apenas estou explicando os fenômenos de mercado para que possamos juntos evitar a SÍNDROME DO MÍOPE...

Meu discurso não muda, BAIXAS DEVEM SER COMPRADAS ATÉ QUE TENHAMOS CONVICÇÃO DE UMA MUDANÇA NA TENDÊNCIA CLIMÁTICA.  Apenas, quando o movimento de baixa é violento, toda cautela vale a pena.
Apesar de mais chuvas nos radares, como expliquei acima, os modelos Euro e GFS ainda divergem, com o modelo EURO bem menos “molhado”.
A soja pode sim usar e se recuperar com chuvas nos próximos 10 dias e isto pode trazer mais uma onda de vendas.
Mas, o mercado sabe muito bem que, mesmo com chuvas nos próximos dias, a safra de soja será pelo menos de 8% á 10% menor que o esperado.  E se já estávamos preocupados com os estoques de soja mesmo antes de termos qualquer indício de um problema climático este verão aqui, o que vocês acham que pode acontecer com os estoques se o mercado derrubar muito os preços??? Motivará a demanda e complicará mais ainda o quadro. 
O mercado entende que deve manter preços de soja altos o suficiente no curto e médio prazo, até que tenha convicção sobre o tamanho real da safra e saiba o quanto de demanda os EUA podem servir durante este próximo ano.
Não confirmando-se chuvas entre 10 a 25 mm nos próximos 10 dias abrangendo a maior parte do cinturão de produção, a forte tendência de alta no curto prazo pode retornar...

Já no milho, a safra está “acabada”, existe muito pouco espaço para qualquer tipo de recuperação.
A safra deverá ser de 15% á 25% menor que o esperado e deixará estoques baixíssimos nos EUA...

Não acredito que vimos as altas de milho e soja ainda para este ano... á não ser que tenhamos uma completa “virada” no clima... o que muitos técnicos e especialistas não esperam...
Mas isto não significa que sempre iremos “para o alto e avante” em linha reta...
Então meus caros, muita cautela... pois a VOLATILIDADE está para ficar.

Vejam gráficos abaixo de condições “ruim/muito ruim” das safras de Milho e Soja nos EUA, relatados ontem pelo USDA (linha vermelha).
Percebam como a linha está muito acima da média de 5 anos, indicando uma safra que realmente sofre com o atual quadro climático.





 
Mais um ponto antes que eu colocar vocês para dormir completamente...

No mundo dos fundos de investimento, se fala muito sobre uma preocupação de certos gestores com o “timing” que a atual crise Europeia e as altas nas commodities agrícolas estão formando.
Ouve-se muitas comparações com 2008, quando muitos de vocês sabem o que aconteceu...
Para quem não sabe, é só ver o gráfico abaixo...
A crise financeira “explodiu” no segundo semestre, mercados financeiros entraram em pânico e TUDO foi vendido, inclusive Commodities Agrícolas.
Naquele ano, altas históricas foram formadas em Julho e simplesmente despencaram até o final do ano, com a soja perdendo mais de 50% em menos de 5 meses...
 


2012 não é 2008...
O quadro é bastante diferente e será explicado em maior detalhe em um dos próximos comentários.
Mas este ano, principalmente se a tendência seca e quente continuar, os fundamentos dos mercados de soja e milho terão que EVENTUALMENTE falar mais alto que qualquer pressão do macro cenário.

Para o mercado noturno e o resto da semana, é ficar de olho nos mapas climáticos e pontos técnicos.
Mesmo com forte baixa hoje, a atividade técnica nos contratos agrícolas foi “animadora” para os BULLS na última hora da sessão...
Será que vimos hoje um ponto de baixa para o curto prazo?
Saberemos nos próximos dias...
Fonte: Pedro Dejneka

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