Por Glauber Silveira, produtor rural e presidente da Aprosoja Brasil.
Foi apresentada para o Brasil, pelo Economist Intelligence Unit, uma ferramenta
que gera índices que medem os vários influenciadores da questão alimentar
mundial. Foram avaliados em 105 países, inclusive no Brasil, os principais
fatores negativos e positivos na produção de alimentos. O principal objetivo
deste índice é auxiliar os países a fazerem seu dever de casa, aumentando
produtividade e diminuindo desperdício, afinal mais de um bilhão de pessoas
passam fome hoje em dia e a metade de todo alimento produzido é desperdiçado.
O maior desafio deste
século é alimentarmos o mundo, e no meio dele, em 2050, seremos nove bilhões de
pessoas, sendo assim, o questionamento: é o que faremos para superar isto de
forma sustentável, produzindo mais na mesma área e evitar o desperdício? Quais
são as ameaças à produção, distribuição e segurança destes alimentos? E,
principalmente, o que faremos para permitir que as pessoas tenham acesso a
estes alimentos?
Tem se falado muito em
segurança alimentar, mas o que realmente isto significa? Segurança alimentar é
quando dispomos de alimentos suficientes e as pessoas possuem renda suficiente
para adquiri-los. Fica claro que isoladamente será impossível alcançar a segurança
alimentar mundial, mas, sem dúvida, juntos poderemos alimentar o mundo, daí a
necessidade em identificar as potencialidades mundiais e criar mecanismos para
a produção sustentável.
Nas primeiras
avaliações do Global Food Securit Index (índice que mede a eficiência alimentar
dos países) pode-se observar que o desafio é muito grande para diminuir a
desigualdade dos países. Em alguns países da Ásia e África, por exemplo, as
pessoas gastam mais de50% de sua renda com alimentos. No Brasil este gasto chega
a 20%.
O fator desperdício é
crítico. Enquanto mais de um bilhão de pessoas passam fome, e outro bilhão se
alimenta muito mal, países do dito primeiro mundo desperdiçam muitos alimentos.
Desperdício é fator limitante para a sustentabilidade e segurança alimentar do
mundo, é preciso focar nisto e criar um modelo de orientação global. Mesmo um
país como o Brasil - que tem lutado muito para que nenhuma pessoa passe fome -
muito alimento é jogado na lata de lixo, ou perdido na colheita e no
transporte.
A África lidera com os
piores índices de segurança alimentar do mundo, sendo assim deve ser o foco
global nos próximos anos não como fornecedor de alimentos, mas por meio da
criação de mecanismos para amenizar a falta e a dependência de importação. Não
basta somente buscar aumentar a renda dos países, é preciso buscarformas para
que fiquem mais baratos.
A posição do Brasil é
baixa entre os 105 países. Estamos na 31ª colocação, isto porque dos 25
principais pontos estudados muitos independem de política agrícola,e tem a ver
na verdade com infraestrutura e renda. Mas independente da nossa colocação a
expectativa mundial em torno do Brasil é muito grande.
Segundo alguns
institutos internacionais, o mundo até 2020 crescerá 20% em produção de
alimentos e o Brasil terá um crescimento de 40% na produção com um incremento
de apenas 16% de área. Vejam a responsabilidade, já que o incremento da
produção em países tradicionais como EUA será de 15%, China 15% eEuropa 4%.
Em todos os setores
analisados pela OECD (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico),
seja carnes, frango, soja, milho e açúcar, o Brasil crescerá na produção destes
alimentos acima da média mundial. Para se tiver uma ideia no setor de carnes o
Brasil crescerá 4,3% ao ano enquanto que a produção mundial crescerá 2,5%. Na
soja cresceremos o dobro domundo, sendo Brasil 3.6% e o mundo 1,8%. Isto
demonstra uma grande oportunidade e um grande desafio.
Mas o estudo gerado
pelo Global Food Securit Index mostrou também as nossas vantagens como: terra
-dispomos de 85 milhões de hectares por cultivar entre pastagens e novas áreas
(se deixarem); somos fortes em recursos humanos e em tecnologia e gestão. Os
pontos fracos do Brasil e que trazem nossa média em comparação mundial são os
velhos conhecidos: falta de Infraestrutura, distribuição de renda e
investimentos em pesquisa.
Para termos uma ideia
da importância da pesquisa, o aumento de produtividade nas diversas culturas
economizaram 60 milhões de hectares ao Brasil, mas ainda em algumas culturas nossa
produtividade média é baixa. No milho, por exemplo, nossa produtividade é a
metade da produtividade dos EUA.
Pesquisa é um fator
gerador de tecnologia e renda ao campo, mas o Brasil tem empregado pouco
recurso nela. Em 2011 empregou 1,3% do PIB em ciência e tecnologia,e em 2012
deve empregar apenas 0,9% o que é um retrocesso e falta de foco.
A pergunta é: qual a
ação prioritária para o Brasil no setor da produção? Sem dúvida é
infraestrutura, pois ela barateia os alimentos, diminui o desperdício e gera
renda e a renda é fundamental na garantia da sustentabilidade o campo.
O Brasil precisa de um
programa estratégico de desenvolvimento da produção, com política pública
integrada e contínua, não dá para mudar a cada troca deministro. Os ministérios
precisam se falar, planejar, dar continuidade e cumprir. A estratégia tem que
ser integrada, o financiamento tem que sair na hora certa. A estrada também. O
armazém tem que ser construído e o porto ampliado e modernizado. A logística
integrada. OBrasil tem tido uma política dispersa e isto tem custado caro a
todos nós.
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