Bisneto do fundador da Sadia se junta a produtores de soja de Mato Grosso para produzir pescado
por Rodrigo Vargas, de Sorriso (MT)
O catarinense Eugênio Preima, de 63 anos, sempre levou jeito para a
criação de peixes. Porém, estabelecido no interior de Mato
Grosso não encontrava a quem vender sua produção. Sem alternativas,
chegou a plantar soja, mas manteve vivo o sonho de fazer
dinheiro a partir dos tanques de piscicultura que aprendeu a
construir e aprimorar. “Já fiz de tudo nesta vida, mas minha paixão sempre foi
o peixe. Só que, por mais de 20 anos, por mais que tentasse, não conseguia
viver disso por aqui”, afirma.
O empresário paulistano Pedro Furlan, de 33 anos, nasceu e cresceu em meio a plantas de processamento e produção em larga escala de proteína animal. Bisneto de Attilio Fontana, fundador da Sadia, ele sempre quis se manter no segmento (chegou a atuar por quatro anos nas empresas da família), mas ambicionava trilhar um caminho novo, independente. Foi quando, trabalhando para a Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos, vinculada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior), ele descobriu o potencial do peixe. “A fonte de proteína animal mais consumida no mundo é o pescado. No Brasil, em parte por não haver uma estrutura de produção e comercialização em larga escala, há muito espaço para crescer. Eu já conhecia bem a dinâmica operacional do negócio.”
O empresário paulistano Pedro Furlan, de 33 anos, nasceu e cresceu em meio a plantas de processamento e produção em larga escala de proteína animal. Bisneto de Attilio Fontana, fundador da Sadia, ele sempre quis se manter no segmento (chegou a atuar por quatro anos nas empresas da família), mas ambicionava trilhar um caminho novo, independente. Foi quando, trabalhando para a Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos, vinculada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior), ele descobriu o potencial do peixe. “A fonte de proteína animal mais consumida no mundo é o pescado. No Brasil, em parte por não haver uma estrutura de produção e comercialização em larga escala, há muito espaço para crescer. Eu já conhecia bem a dinâmica operacional do negócio.”
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O
encontro entre a vocação de produtores locais e o espírito empreendedor de Pedro Furlan se deu em Sorriso, a 420 quilômetros de Cuiabá, um dos mais importantes
centros produtores de grãos do
país, localizado na base da Bacia Amazônica.
Foi para lá que Furlan, então com 27 anos, resolveu levar o projeto de produzir
e processar peixes no mesmo modelo industrial que já era adotado nas cadeias de
aves e suínos. Além do clima propício,
pesaram na escolha a água abundante e o acesso facilitado ao farelo de soja (base da ração, que responde por 70% dos
custos de produção).
Fundada
em 2006, a Nativ Indústria de Pescados Amazônicos começou
a produzir dois anos depois, mas foi somente em 2010, com a inauguração de uma
planta industrial de 4.000 metros quadrados, que o negócio passou a reproduzir
o modelo imaginado por Furlan. Com um investimento de R$ 80 milhões, a
estrutura montada em Sorriso inclui ainda um centro de reprodução e engorda que, localizado a 50
quilômetros da sede do município, reúne 128 tanques e tem capacidade para
produzir até 3 milhões de alevinos por ano. Por conta própria, a Nativ produz a
tilápia (espécie de origem
africana, mas muito adaptada ao Brasil), o tambaqui
e o pintado-amazônico, um híbrido
entre a cachara e o jundiá – que teve suas
características aprimoradas nos laboratórios de reprodução da empresa.
Transportados
vivos dos tanques até o frigorífico, os peixes são abatidos, processados e
congelados em um intervalo não superior a uma hora. Mensalmente, cerca de 200
toneladas de postas in natura e 70 toneladas de empanados são preparadas no
frigorífico. Outras 8 toneladas de camarão-cinza, compradas no Rio
Grande do Norte, também integram a linha de produção a cada mês. “Metade
dessa demanda é atendida por nossos próprios tanques. Outra fatia, equivalente
a 40%, vem de produtores parceiros na região”, diz o diretor de produção do
frigorífico, Clóvis Canzi
Os parceiros recebem alevinos subsidiados, acompanhamento técnico e garantia de compra de 100% da produção. “O parceiro banca a ração, a manutenção e a despesca. O transporte até o frigorífico também é por nossa conta”, explica o diretor. O modelo proposto pela Nativ eliminou os entraves à produção de entusiastas como Eugênio Preima, um dos primeiros na região a aderir ao novo modelo. “A chegada desse frigorífico foi uma bênção”, elogia.
Com 9
hectares de tanques em sua propriedade, ele já faz planos para dobrar a
estrutura e garante: existindo mercado comprador, o investimento no peixe se
paga integralmente em dois anos. “Seja pequeno ou grande produtor, é um ótimo
negócio.”
O empresário
do ramo de mineração Antônio Miguel Dal Soquio, de 60 anos, começou em
marcha lenta, com apenas um tanque, mas obteve resultados tão positivos no
primeiro ano que decidiu abrir mais seis novos reservatórios em sua
propriedade. “Agora, vamos produzir em larga escala”, afirma.
Quem também
mira ser um grande na piscicultura da região é o paranaense Álvaro Colombo, de
45 anos. Médico anestesista e sócio de uma área com 1.000
hectares de soja, ele nunca havia imaginado investir em peixes. A chegada da
Nativ, porém, mudou essa perspectiva. Com 6 hectares já prontos para iniciar a
primeira etapa da produção, Colombo diz que o projeto prevê mais 20 hectares
nos próximos três anos. A produção, segundo ele, será “altamente tecnificada”,
com controle rigoroso das características da água (oxigenação, pH,
temperatura e nível de amônia) e objetivo de atingir até 28 toneladas
de tilápias por hectare. “A gente está acreditando mesmo no negócio”, diz.
A rentabilidade da piscicultura impressiona. No caso do pintado-amazônico, 1 hectare de lâmina d’água bem manejado pode produzir uma média de 10 a 12 toneladas por ciclo de nove meses. Considerando os preços pagos pela Nativ aos parceiros (no caso do pintado, R$ 6 o quilo) e o custo de produção médio por quilo (R$ 4), é possível obter uma renda líquida de R$ 20.000 anuais por hectare.
A rentabilidade da piscicultura impressiona. No caso do pintado-amazônico, 1 hectare de lâmina d’água bem manejado pode produzir uma média de 10 a 12 toneladas por ciclo de nove meses. Considerando os preços pagos pela Nativ aos parceiros (no caso do pintado, R$ 6 o quilo) e o custo de produção médio por quilo (R$ 4), é possível obter uma renda líquida de R$ 20.000 anuais por hectare.
Cultivada
com soja, a mesma área renderia dez vezes menos, segundo levantamento do Instituto
Matogrossense de Economia Agrícola (Imea). O cálculo considerou uma
produção média de 50,4 sacas por hectare, preço médio de R$ 42,19 e custo de R$
1.600. Nem todos na região, no entanto, viram a oferta de parceria com bons
olhos. O número de produtores ainda está aquém das necessidades da empresa, que
hoje opera seu frigorífico com 50% de capacidade ociosa. “Tivemos e ainda temos
de enfrentar certa desconfiança por parte de fornecedores em potencial. Mas é o
preço a pagar pelo pioneirismo”, afirma Canzi.
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