COTAÇÕES AGRÍCOLAS

terça-feira, 17 de julho de 2012

Código Florestal cria insegurança no campo



por *GLAUBER SILVEIRA



Ao contrário do que os produtores rurais esperavam, a Medida Provisória 571, que deveria trazer tranquilidade ao campo, regulamentando pontos que eram conflitantes no novo Código Florestal, ficou longe disso. Essa MP, na verdade, tem causado muita insatisfação, tanto no setor produtivo e até mesmo entre as ONGs ambientalistas.
É certo que o texto aprovado na Comissão mista do Congresso (que analisou a MP 571) ainda terá de passar por votação de seus destaques (são mais de 300 destaques a serem apreciados no plenário da Câmara e do Senado), restando ainda a possibilidade de o Congresso fazer o seu papel: ou seja, criar uma lei que dê segurança jurídica à produção e não o contrário, como está acontecendo até este momento.
Um dos exemplos de insegurança é o Art. 1º do Código Florestal, que contém princípios subjetivos que trazem insegurança jurídica, onde cada princípio pode ser avocado pelo juiz em qualquer julgamento de causa ambiental e se sobrepujar aos dispositivos da lei, resultando em sanções aos produtores. O relatório da MP 571 manteve esses princípios subjetivos, retirou um ou outro ponto mais subjetivo, mas manteve a essência, ao afirmar que o objetivo do novo Código Florestal é a promoção do desenvolvimento sustentável.
Mas o Código Florestal, assim como a MP 571, tem foco mais social que ambiental ou econômico, deixando, desta forma, de ser sustentável. Trouxe grandes avanços ao pequeno proprietário, mas ao mesmo tempo não consolida a área para os médios e grandes proprietários; ou seja, no tocante às definições das APPs (Áreas de Preservação Permanente - margens de rios) elas passam a ter uma medida política e não baseada em ciência, como deveria.
A grande preocupação é que o Legislativo (Congresso Nacional) esteja deixando de legislar para dar segurança jurídica à população brasileira. O Legislativo, ao invés de fazer leis objetivas com regras e normas claras a serem cumpridas e respeitadas, passa ao SISNAMA (Sistema Nacional do Meio Ambiente) o poder de autorizar a compensação ou não.
A grande questão é: quais serão os critérios,  os parâmetros, que o SISNAMA vai usar? Serão os dos  fiscais? Sendo assim o Congresso Nacional está delegando responsabilidade ao Sistema, dando direitos ao fiscal, ao Ministério Público e aos juízes para legislar, ficando a produção brasileira à mercê de critérios subjetivos. Isto cria uma grande insegurança jurídica e impedirá grandes ganhos ao Brasil.
O fortalecimento de órgãos fiscalizadores não seria um problema, muito pelo contrário, mas isso caso os legisladores tivessem criado leis objetivas; no entanto, criaram muitos pontos subjetivos que deixam margem à interpretação dúbia e pessoal do Judiciário. O Legislativo (deputados e senadores) deixa de criar parâmetros de segurança ao produtor, fortalecendo a interpretação individual de fiscais, promotores e juízes.
A nova legislação ambiental do Brasil chega a absurdos determinando, por exemplo, que só os pequenos produtores podem praticar a piscicultura no Brasil. Aos demais produtores está vedada a possibilidade de se construir represas. Diante disso, como ficará a irrigação no campo?  
Dessa forma, só podemos concluir que o Governo (e sua política ambiental), não quer que se amplie a área produtiva, não quer que se irrigue novas culturas, não quer ver consolidado o que já foi aberto há centenas de anos. 
Ou seja: Foi criado um Código Florestal insustentável para um país em desenvolvimento. Por isso perguntamos: onde esse governo quer chegar?
Precisávamos todos (produção, sociedade, governantes) de uma nova lei ambiental, que consolidasse as grandes conquistas da ciência e do trabalho, mas jamais deveriamos delegar o poder legislador aos órgãos fiscalizadores. Isto criará insegurança jurídica no campo e fortalecerá a indústria das multas. 
Sem dúvida, o novo Código Florestal vai inevitavelmente desequilibrar o tripé da sustentabilidade - que é baseado no ambiental, social e econômico - e trará problemas seríssimos que devem ser corrigidos, antes que traga prejuízos irreparáveis ao Brasil.

*GLAUBER SILVEIRA é produtor rural, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil) Twitter: @GlauberAprosoja E-mail: glauber@aprosoja.com.br
Fonte: NA

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