Por José Donizeti Pitoli, 53, economista em Cornélio Procópio (PR).
Crise na terra do “Tio Sam”:
Com água na boca de ver os preços na COBT (Bolsa de
Chicago), os produtores americanos tiram o boné, olham para o céu em busca de
nuvens.
Enfrentando a maior seca já ocorrida nos últimos 50 anos,
as lavouras dos EUA derretem e compromete o abastecimento alimentar do planeta.
A celeuma de que havia necessidade da formação de estoques capazes
minimizarem uma possível catástrofe nas lavouras dos principais países produtores
já vinha sendo cantada em prosa e verso. Os efeitos das perdas estimadas
até o momento pode ser sentidos na tabela de preços, que sobem aqui, mesmo na
calada da noite.
Confirmando-se as estimativas das perdas os estoques
mundiais só serão repostos ao longo de 3 ou 4 anos, salvo se houver a
concentração de plantio num único produto.
Isto significa que se o mundo concentrar o plantio das
suas áreas de produção nas culturas de soja e milho, certamente haverá falta de
outros alimentos como arroz, feijão, trigo, etc. ...., de algodão e outras
fibras e cana de açúcar e todos os demais cultivos, ou seja, estamos num beco
sem saída, a velha estória do: se correr o bicho pega e se ficar o bicho come.
O momento é de grande reflexão para todos e especialmente
para os governantes, que no interesse de saciar a fome de seus povos devem
doravante incluir em seus orçamentos substanciais cifras a serem destinadas na
formação de estoques públicos de alimentos, será um custo social a ser arcados
por todas as classes da sociedade.
Nas terras da Dilma:
No Brasil, as duas principais commodities, soja e milho,
são cardápio principal que trazem delírio e vislumbram os olhos de quem lê e
ouve mídia, os expressivos índices de aumento registrados nos preços, tiram o sono
e a tranquilidade das indústrias, granjeiros e setores que dependem destes
produtos. Na mesa do consumidor/trabalhador, resta cozinhar com menos
óleo, comer pão sem margarina e dividir o bife.
Por sorte, a produção de milho safrinha será recorde; não
ocorreram geadas nas principais regiões produtoras e o clima do outono foi
melhor que o de verão para a cultura; o inverno ameno chega com 90,0% das
lavouras fora da faixa de serem atingidas por geadas. Resta torcer
para que não chova muito na colheita e a qualidade do cereal será ótima.
Colheremos nesta safra plantada em 2012, uma produção estimada em 55,0
milhões toneladas; ufa! ...., nos safamos de ter que importar o produto aos
preços atuais.
Aliás, podemos afirmar que “Deus é brasileiro”, e nossa
saia não é tão justa quanto a 100 dias atrás.
Refazendo as contas:
Com lavouras de inverno já garantidas, já é possível
dizer que a produção brasileira terá grande peso e com certeza dará ao mundo a
garantia do abastecimento na carne de suínos, bovinos e especialmente de
frango. Nosso mercado de milho está em condições privilegiada, vejamos:
Com estoque de passagem 2011 para 2012 de 9,0 milhões de toneladas,
mais a produção do verão estimada em 35,0 milhões de toneladas, mais a soma da
produção do inverno estimada em 55,0 milhões de toneladas, temos um estoque de
99,0 milhões de toneladas, menos um consumo interno de 54,0 milhões de
toneladas, teremos capacidade de ofertar ao mercado 45,0 milhões de toneladas.
O perigo da ressaca depois da festa dos preços:
Na festa que esta sendo realizada pelo mercado com os
preços atuais, o risco de uma forte ressaca (arrependimento por não tem
vendido) será muito grande. Estamos vivendo uma situação
conhecida como “Mercado de Clima”; que se caracteriza pelo aviltamento dos
preços em razão das severas condições e intempéries climáticas que sofrem as
lavouras americanas; em muitas lavouras o efeito pode ser irreversível, mas na
maioria das regiões produtoras se ocorrerem chuvas ainda este mês as perdas de
produtividade podem ser amenizadas. Por isto é bom que o produtor
que ainda possua produção para ser comercializada, faça uma reflexão sobre os
preços atuais e defina sua estratégia de venda dos produtos que ainda possui
nos seus armazéns, dos que ainda vai colher e que são da lavoura de inverno e
ainda da safra de verão que será plantada aqui no Brasil entre os meses de
agosto e dezembro.
Não há mal que sempre dure. Quando a
situação de clima se normalizar lá, provavelmente os preços desabarão; nesta
situação o mercado trava e as perdas serão incalculáveis. Também, tem-se
que considerar que com a elevação dos preços dos insumos que compõem a ração
animal, em especial o de soja e milho, as empresas de integração que haviam
acelerado os alojamentos por consta de uma safrinha cheia (com grande
produção), devem sem dúvida reduzir o alojamento de animais com a consequente
redução no consumo.
Com a queda na demanda e o mercado mais a cauteloso
operando da mão para boca (comprando conforme a necessidade), os preços também
cederão a ressaca e a dor de cabeça fica com quem especulou, na maioria das
vezes estes são produtores.
Prudência, cautela e canja de galinha:
Muitas são as recomendações dadas pelos especialistas e
muitos também são os pitacos dos palpiteiros de plantão; por isso que o
produtor tem que ter ideia firme e consciência da escolha a fazer, vale a pena
lembrar algumas delas:
- Fazer vendas parceladas e de preferência com o mercado
subindo;
- Definir o nível de preço para a venda dos produtos que
ainda possui ou vai colher;
- Observar e aproveitar as oportunidades do mercado,
(significa muitas vezes vender o produto no preço atual e comprar um outro
produto necessário à atividade, mesmo que sejam os insumos); se possui dívidas,
mesmo que não vencidas, é o momento de pedir um bom desconto e pagar
antecipadamente o débito;
- Buscar fazer a entrega de sua produção em local seguro
e de sua confiança;
- Não se encantar com promessas de preços maiores, lembre-se:
“confiança não tem preço”. O mercado é o mesmo para todos e
pode pagar mais, quem for mais eficiente. Propostas de pagamento
a prazo e com valores muito elevados devem ser criteriosamente analisadas;
- E, mesmo que não tenha compromisso, o momento atual de
preços é bom vender e fazer uma poupança.
Fonte: José Donizeti Pitoli
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